20.8.07

Filhos e manos

Tava no boteco do Tuti, agora à tarde, e conversava com o ***** . Uma cara bem ajambrado e tranquilo na vida. Muito legal, ele. A gente batia uma cervejinha, quando pintou o papo, sei lá de onde:
" Lukas, eu tenho o meu filho que eu banquei todo o curso dele. Ele é dentista e, depois da formatura, eu paguei por três anos a especialização em ortondontia. Mil e oitocentos por mês. Montei um consultório pra ele em Curitiba. Devo ter gasto uma grana boa que nem me lembro.
Dia desses encontrei com um amigo e ele falou que viu meu filho na cidade. Estava participando de um curso que durou três dias e estava hospedado no Deville. Já tinha um mês que ele veio e foi embora quando esse amigo me informou.
Fiquei muito triste. Ele nem me ligou. Eu nem ia falar pra minha mulher pra ela não ficar chateada, mas daí eu falei. Coitada. O Filho vem lá de longe e nem liga pra ela."
Aí eu disse a ele que meu mano, que era de Maringá e mora em Erechim, no Rio Grande do Sul, esteve em Maringá há algum tempo e nem ao menos ligou pra mim. Fiquei sabendo que ele passou uns dias aqui através de um amigo em comum. Por acaso eles se encontram em um restaurante. Achei que ele ia vir no barraco pra gente ao menos bater papo e fazer um churrasquinho. Que nada.
Vi ele nascer, meu mano, e cuidei dele; dando banho de picão, porque ele tinha icterícia; ensinei inglês pro bicho quando ele tinha 4 anos e um monte mais de coisas. Eu tinha 12 anos na época e era muito legal. A garotada do bairro ficava maluca vendo um merdinha daquele falando todas a cores em inglês e mais um monte de coisa.
A gente conversou [eu e esse amigo] sobre isso tudo e entrou em mais alguns detalhes das histórias. Porque esse pessoal vira as costas pra gente? Irmão, filho. O que a gente fez de errado pra eles, sangue de nossos sangues fazerem isso? Eu, juro, nunca vou entender. Mas eu não ligo mais não. No começo, há uns 6 anos mais ou menos, eu até ficava muito, mas muito triste e até chorava, às vezes.
Depois que o mano foi embora pro Sul, confesso que senti muito sua falta. Hoje, às vezes, bate uma tristeza pela ausência dele. Mas eu já sublimei a coisa, botei no arquivo morto do meu cérebro - eu sou muito bom pra fazer isso. (Nossa! como é triste e doído arquivar coisas. Eu não gosto, mas agora já foi) e quando eu arquivo a coisa, já era. Não tem mais volta. Não gosto disso. Não gosto mesmo. Mas agora já foi.

4 comentários:

Anônimo disse...

Caro Lukas
Me solidarizo com seus sentimentos: o relacionamento com família pode ser complicado
Um abraço
Carlos

Anônimo disse...

Não liga não. Entenda que esta é a índole do ser humano, o pior animal sobre a face da Terra. É uma pena Deus ter dado o domínio do planeta a sua pior criação. Li tempos atrás numa revista um artigo de uma escritora estadunidense onde ela diz que o caráter do ser humano é moldado pelo meio, pela escola e pela famíia em apenas 10%. Os outros 90% do caráter, nascem com cada indivíduo. Se o cara nasce mau, pode ser filho de Gandhi e criado por Buda que vai ser mau de qualquer jeito. A mesmo coisa se nasce sociopata, egoísta, ingrato, insensível, ciumento, egocentrista, etc, etc. A escritora levou e leva pau de tudo quanto é lado até hoje, pois a família não crer acreditar que de todo o imenso sacrifício que faz para criar alguém só se aproveita 10%. Psicólogos, educadores e religiosos também não querem acreditar que jogam 90% de sua luta no éter. Eu acredito. Espero que um dia este mundo seja ocupado por coisa melhor do que nós.

Anônimo disse...

Tenho dois filhos, criados dentro de casa, com todo amor e carinho. Não deixo na rua, pois a rua é uma péssima influência. A mãe é de um amor extremo, de uma paciência ímpar, abnegada totalmente. Pago escola particular, mantida por religiosos. Ontem com sacrifício paguei a escola com um mês de atraso. Hoje de manhã um deles me mandou tomar no cú e chamou de filho da puta. E eu vou fazer o que? Nada. Porque quando uma pessoa nasce de um determinado jeito, não tem nada a ser feito. Vou continuar trabalhando, pagando a escola mesmo atrasado e indo a missa para pedir a Deus que mantenha minha sanidade.

Anônimo disse...

Família é um assunto muito delicado e zerar essa conta é dor sem fim. Ingratidão cria cicatrizes que não tem plástica nem arquivo morto que consertem, porque dói pra cacilda mesmo!
Mas para filho malcriado com os pais tem jeito, sim, anônimo! Se não podar agora, daqui a pouco vai bater além de xingar. Deixa Deus fora disso e corta alguns privilégios a cada malcriação, que eles ficam educadinhos de dar gosto!