6.2.07

Seu Jair

Hoje de manhã bati um papo com seu Jair. Ele cata produtos recicláveis, sendo o forte caixas de papelão, e mora na Vila Operária. Eram 10:40 da manhã. Eu vinha do jornal e caminhava na avenida Brasil, rumo ao terminal. Tio Lukas é meio doido, como já disse aqui e graças a Deus as pessoas compreendem essa falha. Chamei o homem num canto e os três cachorros se amontoaram em volta da gente. Ficamos numa esquina. Uma mulher, funcionária de uma loja, ficou olhando e tentando saber o que eu queria com ele, acho.
- O senhor me desculpa, mas eu sou curioso, disse- Esses cachorros são do senhor há quanto tempo? E eles comem o quê? (Nisso eu já vi que ele era dos meus- me iluminei- olhou pra mim e já começou a falar).
- Peguei tudo na rua, filhote, todo mundo judiando. Eles comem muito bem. Tem uma turma de restaurante que guarda até churrasco pra eles. Eu guardo numa bacia na geladeira e eles têm comida direto. Tem uma japonesa que me dá dois pacotes de ração por semana, mas eles não comem. Aí eu dou prum amigo que reparte com quem tem cachorro que gosta de ração.
Pergunto seu rendimento diário.
- De 10 a 15 reais por dia.
Os cães são fiéis e se amontoam aos nosso pés. Um felpudo (mistura de Yorkshare) pula em cima de um marrom e começa a fazer chamego nele, mais pra chamar nossa atenção. O outro, também marronzinho, fica deitado perto sem dar moral. (A moça da loja olhando).
Uma mulher desce do carro com duas crianças e eles vão em cima, cheirar. As crianças não ficam com medo. Eles vão, olham pros dois meninos, pra nós, pra mãe e voltam pra perto da gente.
-Pode ficar tranquila, eles são bonzinhos, não mordem, diz o catador de recicláveis.
A mulher monta no carro com as crianças sorridentes e parte pra algum lugar.
Aí eu me despeço do seu Jair. Lá na frente, quase chegando na praça Rocha Pombo, ele passa por mim, com os cães andando na calçada. Todos os comerciantes da área já os conhecem e respeitam. Ninguém enxota. O peludão me olha e abana o rabo quase se esfregando em minhas pernas, como se a gente fosse amigo há anos (os cães sabem quando a gente gosta deles).
-Vai com Deus, seu Jair- eu disse, acenando.
-O senhor também- falou, puxando o carrinho cheio de papelão.
E eu segui com a mochila nas costas, no meu caminho, rumo ao terminal, feliz por ter conseguido mais quatro amigos.

5 comentários:

Anônimo disse...

Cara, não sei como você consegue fazer humor com seus cartuns e ao mesmo tempo escrever textos tão líricos e melancólicos como esse. Parabéns por essa tua versatilidade e continue nos brindando com esses textos e cartuns.

Elton Hubner disse...

Puxa, vim comentar e vi que algum leitor já disse tudo antes de mim. Me divirto com seus textos, Lukas! Abraço!
Elton Hubner

Anônimo disse...

A diferença entre o ser humano e o cão é:
- se você trata um cão bem ele também te tratará bem.
- você pode tratar um ser humano bem, fazer tudo por ele.. mas você não terá nenhuma garantia de que será retribuído.

"quanto mais eu conheco os homens, mais eu gosto dos cachorros"

Anônimo disse...

Gandhi é do caralho...

Anônimo disse...

Ê, Lukas. Não faz isso com a gente não.Te admiro demais e acho seus textos do cacete no seu blog. Tem vez que eu leio umas 10 vezes. Aqules dos teus furtos foram demais.Minha mulher também acha o máximo. Abraço.