2.8.07

Tem OAB e tem OAB...

O presidente da OAB-RJ, Wadih Damous, disse em entrevista a Paulo Henrique Amorim nesta quinta-feira, dia 2, que “o resultado previsível do movimento ‘Cansei’ é o ‘Fora Lula’. "Presidente eleito tem que terminar o seu mandato, concordemos ou não com a gestão e com as formulações que cada governante tenha”, disse Damous. Ele disse que se opõe ao “Fora Lula” como se opôs, no passado, ao “Fora FHC”.
Algumas entidades que têm uma história não muito recomendável em termos de luta pela democracia integram esse movimento. A Fiesp, por exemplo, uma das artífices do Golpe de 1964. Algumas personalidades que também não primam muito pela defesa da democracia, por exemplo, o empresário João Dória Júnior”, disse Damous.
Wadih Damous comparou o “Cansei” ao movimento que precedeu o golpe de 1964. “Eu me lembro que foi exatamente assim que se gestou o golpe de 64, com uma indefinição momentânea, com uma crítica muito genérica... e vai se caminhando em linha reta ... para o golpe”, disse Damous.


Paulo Henrique Amorim - Doutor Wadih, os jornais de São Paulo dão, rapidamente, uma declaração sua em que o senhor considera que esse movimento “Cansei”, que nasceu aqui na OAB de São Paulo tem uma certa conotação golpista. O que o senhor quer dizer com isso?
Wadih Damous – Paulo, tudo o que eu tenho lido e ouvido a respeito desse movimento “Cansei”, o fato que em mim chegou ao conhecimento é que esse movimento já estava sendo articulado e resolveram convidar a OAB de São Paulo para que fosse uma espécie de relações públicas desse movimento, ou seja, uma entidade com uma respeitabilidade e a tradição da OAB. E de fato, assim que a OAB entrou nesse movimento, o movimento passou a ter uma visibilidade social bastante intensa.
Aqui no Rio eu comecei a ser interpelado até por advogados, não só pelo cidadão fora da advocacia mas até por advogado, criticando a participação da OAB nesse momento como se nós, OAB do Rio de Janeiro estivesse nesse...
Então, a partir daí isso me incomodou, nós não só não estamos participando desse movimento como nós criticamos esse movimento. Daí vim a público para dizer exatamente o que eu penso sobre esse movimento.
Paulo Henrique Amorim – E o que que o senhor pensa?
Wadih Damous - Eu penso que esse movimento é um movimento estreito. Aliás é um movimento que até agora não conseguiu se expandir além das fronteiras paulistas, é estreito pelo conteúdo, pelos componentes sociais desse movimento, entidades das classes mais abastadas de São Paulo, algumas entidades que tem uma história não muito recomendável em termos de luta pela democracia integram esse movimento.
Paulo Henrique Amorim – Por exemplo.
Wadih Damous – Fiesp por exemplo, uma das artífices do golpe de 64, algumas personalidades que também não primam muito pela defesa da democracia.
Paulo Henrique Amorim – Por exemplo.
Wadih Damous – O empresário João Dória Júnior. Aliás eu quero até aqui incorporar um dito xistoso do ex-governador Cláudio Lembo, que disse que a grande contribuição do empresário João Dória foi promover um desfile de cachorros de madame há cerca de um mês em Comandatuba.
E é um movimento que está, do meu ponto de vista, instrumentalizando, porque ele surgiu a partir, ele se intensificou a partir da tragédia do vôo da TAM, está instrumentalizando a dor de famílias enlutadas com aquela tragédia para a partir daí formular uma crítica às ações governamentais no Brasil.
Obviamente o resultado previsível desse movimento vai ser o “Fora Lula”, que eu considero tão golpista quanto considerava o “Fora FHC”. Presidente eleito tem que terminar o seu mandato, concordemos ou não com a gestão, enfim, com as formulações que cada governante tenha.
Paulo Henrique Amorim – O senhor considera, portanto, que o próximo passo do “Cansei” é o “Fora Lula”?
Wadih Damous – Não tenha dúvida, a lógica do movimento é essa. A lógica interna, ínsita a esse movimento, por sua composição social em termos de entidades e de personalidades e por essa indefinição das motivações desse movimento. E eu me lembro, pelo menos por leitura de livros de história, que foi exatamente assim que se gestou o Golpe de 1964, com uma indefinição momentânea, com uma crítica muito genérica, misturando o combate à corrupção com o combate à criminalidade comum.
Hoje com esse ingrediente do apagão aéreo. E vai se caminhando em linha reta depois para o golpe. Então a OAB do Rio de Janeiro não participa. A OAB do Rio de Janeiro vai recomendar às outras seccionais que não participem e vai recomendar ao Conselho Federal que não participe desse movimento.

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