15.3.07

Utopia

Centenas de milhões de pobres e famintos em todo o mundo apelam à solidariedade de todos aqueles que se afogam no consumismo e no desperdício. Mas será que a solidariedade é entendível por todos? Não !
Muitos habitantes deste planeta ainda pensam segundo o paradigma de antigos negreiros, o Outro só existe enquanto for útil, servir para alguma coisa. Não lhes reconhecem a dignidade de pessoas. As relações entre os povos são vistas em termos de exploração, saque, rapina. A solidariedade é uma palavra que não consta no seu léxico.
Os argumentos do negreiro, para não ajudar o Outro são quase sempre os mesmos. Alega frequentemente que não pode fazer porque ainda não tem todos os seus problemas domésticos resolvidos.
Não tem a casa ou o automóvel dos seus sonhos, as férias que há muito deseja. A solidariedade do negreiro reduz-se em dar ao Outro (preto, pobre, etc) os sobejos, os desperdícios do festim. Os pobres não necessitam de mais, contentam-se com as sobras. A sua preocupação está centrada na ementa do festim, não nos restos.
Muitos pensam segundo o paradigma capitalista, o Outro é parte de um negócio a curto prazo (Toma Lá da Cá), a médio prazo ( Toma lá, e quando tiveres condições para isso retribui com juros) ou no longo prazo (Toma lá e diz a outros que foi eu que te dei).
Na verdade, continuam a haver muitos poucos utópicos neste planeta. Aqueles que conseguem ver no Outro uma pessoa que co-habita no mesmo mundo e sobretudo, são capazes de entender que se ele estiver mal, então todos também estamos.
(Do site português, Confrontos)

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