Conselho Tutelar

Vamos ao Con$elho Tutelar e a prova cabal que aquilo é um cabidão de emprego. Estava eu, na terça-feira, por volta de 11 horas, indo para o terminal, na avenida Tamandaré- suando que nem um condenado -quando vi uma mulher cutucando um garoto de 14 anos (fiquei sabendo a idade depois). O Menino dormia sobre as duas mãos perto ao meio-fio, sob um sol lascado.
"Já liguei pra polícia e ele pediram pra ligar pro SAMU. Eu achei que ele tava morto. Ofereci até a minha marmita, que eu tô indo pro serviço, e vou chegar atrasada, e ele não quis; já liguei pro SAMU". disse a mulher. E ficamos lá no aguardo.
O rapazinho, pardo, forte, descalço, sem camisa e com os pés todos sujos de terra continuava inerte, parecendo morto mesmo.
Eis que chegam três funcionários do SAMU em uma ambulância. Pararam, tentaram falar com o menino, perguntaram se ele tinha alguma problema e ele disse que não. E, depois de uns cinco minutos, levantou-se e foi dormir numa sombra de um prédio em construção, que fica quae em frente.
Curioso que sou, fui até os Samuseiros e puxei papo, não sem antes dar os parabéns pelo trabalho que desenvolvem.
"Perguntei a idade dele- disse um atendente, retirando as luvas- tem 14 anos. A gente não pode mexer com eles [menores] porque senão pode vir alguma denúncia contra a gente"
"Isso aí não era caso pro Conselho Tutelar?", pergunto.
"É. Deveria ser né? Dia desses a gente foi chamado por comerciantes para antender um menor que estava dentro do shopping [Avenida Center]. Ele passava nas lojas, entrava e pedia as coisas [mercadorias]. Mas a gente ia fazer o quê? Deixamos pra lá porque ele estava drogado. A gente não pode relar a mão", afirmou.
Eis que chega um funcionário de uma loja de tecidos, que fica em frente, e diz:
"Eles estão dormindo embaixo dessa marquise [de um prédio chique em construção] já faz um mês. Deve ter quatro ou cinco moleques. Esse aí brigou com os outros ontem à tarde. Tá todo sujo porque subiu naquele monte ali pra fugir [aponta um enorme monte de terra que foi retirada para a construção do edifício]. "
"Então, mas vocês nunca fizeram uma denúncia?", pergunto.
"Já ligamos pro 156 um monte de vezes. Porque pega mal pra nossa loja e pros outros, essa molecada aqui em frente, atazanando o dia todo. Mas ninguém faz nada."
"E pro Conselho Tutelar? Acho que isso aí é função deles", falo.
"Uma funcionária aqui da loja já ligou duas vezes e até agora nada. Dá dó dos meninos", fala, olhando pra grama onde o garoto deitou pra curtir a desesperança e acordar pra mais um dia de miséria.
Adendo: Levei uma catracada da Isa por causa do post. Segundo ela, o Conselho funciona, sim. Uma mulher, casada há 20 anos, levava porrada do marido, que além de tudo destruia as coisas do barraco e também batia na filha. Certo dia a mulher ligou pro Conselho e este deu um chega pra lá no valentão. Agora estão monitorando a vida do casal e da menina. Parece que fizeram as pazes.

Revide meu: Monitorar uma família dentro de uma casa, ir lá pra ver a situação é uma coisa, tipo Super Nanny. Quero ver esse povo ir pra rua e ver como está a situação dessa molecada, ali, no asfalto.