17.11.06

A fome é triste

Voltemos a falar sobre a fome. A fome é coisa medonha; e só quem passou por momentos de quase inanição sabe como é o processo. Chega um momento em que a fadiga e a letargia se transformam numa aceitação da morte. Você só quer deitar e esperar algo cair do céu. A morte, de preferência.
Em 1975-eu tinha 13 anos- estávamos minha mãe, meu irmão, minha irmã e eu, no quarto da casa lá na Vila Esperança. Era dia 23 de dezembro e não tínhamos um grão de arroz pra comer já havia uns dois dias.
E a gente ficava descrevendo o que gostaria de comer no dia do Natal. Todos prostados nas duas camas, fracos de dar dó. Me lembro do mano Beto, então com 5 anos, em uma inocência que o levava a nem saber o que estava acontecendo naquela casa.
Eis que toca a buzina de uma kombi da Prudentina- um mercadinho que existia na avenida Cerro Azul. A tia Otília (irmã da saudosa mãe) salvou o nosso natal e mês. Veio de tudo, de arroz feijão, fubá até chocolate e panetone.
A gente se abraçou e chorou olhando praquele monte de rango, sem saber se abria uma lata de sardinha, ou uma de salsicha ou se apenas fazia um macarrão com massa de tomate.
Por isso eu repito: deixa o homem dar comida!

9 comentários:

Anônimo disse...

Cara, essa história é foda.

Eu era amigo do teu irmão, o Beto. Ele nunca me falou disso.

Se tem uma coisa prá que o exército serviu, foi prá me ensinar o quanto é feia a fome. O quanto vale um pouco de comida. E o quanto vale uma amizade.

O primeiro passo é a barriga mais ou menos cheia. Daí o cara pode pensar em outras coisas.

Anônimo disse...

Entonho,Tão. Quer dizer,então Tonho... O Beto era muito novinho na época e talvez não se lembra. Ou talvez sublimou a coisa, já que o bicho é turrão e pode ter ficado com vergonha de falar. Agora, uma coisa te falo: depois que a gente deu uma "arribada" na vida não teve pra mais ninguém. Ele comprava pernil de três quilos aos domingos e eu lembro que a mãe ficava brava com o exagero. Minha irmã comprava torta inteira e comia sozinha. Ela fala até hoje que é pra tirar o atraso.

Anônimo disse...

A Prudentina ficou pequena, mas ainda existe. E fica no mesmo lugar.

Anônimo disse...

Cara visito seu blog todos os dias, nunca fiz um comentário, mas hoje eu fiquei até emocionado ao ler este post.
Li hoje que o presidente da CNBB é contra o bolsa família, ele acha que o programa vicia e o beneficiado não se preocupa mais e vivie só em função do programa; mas ele fala isso porque alguns padres vivem totalmente fora da realidade do país. Já trabalhei em uma escola católica de maringá e foi muito frustrante pois eu esperava lidar com pessoas de bom coração mas elas não são, aliás são muito individualistas e o coração parecia se de pedra.

Lukas... disse...

Ao Nebe: eu ouvi esse cara falando na rádio CBN hoje de manhã. Mandei um e-mail pra eles dizendo que dou 50 pilas de dízimo mensalmente e questionei se isso também não era uma espécie de esmola e o que eles achavam. Até agora não retornaram.

Anônimo disse...

Adendo: mandei e-mail pra CNBB.

Anônimo disse...

Linda mensagem, Lukas. É por essas e outras que admiro cada vez mais seu trabalho.
Sou abençoado por nunca ter passado fome mas, como cresci num buteco, cansei de ver e conhecer gente sem perspectivas e faminta, capaz de trocar a própria dignidade por um prato de comida. A fome, necessidade básica, é maior que qualquer ensejo de dignidade do ser humano; ela corrói, destrói, e só com muito amor no coração e força de vontade, alguém que já passou por isso consegue se sobressair.
Uma ótima mensagem para repassarmos a nossos amigos que só conseguem enxergar o próprio umbigo.
Que tal repassá-la às vésperas do natal, talvez na própria coluna, como uma autêntica (e séria) mensagem de natal?
José Teixeira

Anônimo disse...

Matar a fome do povo é muito louvável, mas tem um trecho de uma música VOZES DA SECA, do saudoso Luiz Gonzaga (Rei do Baião) e Zé Dantas que diz:

Seu doutô os nordestino têm muita gratidão
Pelo auxílio dos sulista nessa seca do sertão
Mas doutô uma esmola a um homem qui é são
Ou lhe mata de vergonha ou vicia o cidadão

Anônimo disse...

Eu nunca passei fome Graças a Deus!! Minha familia nunca deixou faltar quando eu morava sob suas asas..Quando eu vim pra Maringá que a coisa apertou que eu tive uma breve noção do que é ficar na agua, laranja e ovo..NÃO É MOLE NÃO!
Ae qundo o presidente quer dar comida pro povo, a playboizada fica arredia, achando que é esmola pra vagabundo do Nordeste..FODAM-SE PLAYBOYS!!!!!!!