Vendo o céu agora à pouco, me lembrei da angústia que sentia há cerca de dois meses. Eu olhava pela janela, via o sol, o céu azul, sentia o silêncio gostoso,da manhã, e não tinha ânimo sequer de andar até o portão. A Isa ia pra missa e eu ficava sozinho, pensando na moçada lá do Borba Gato, conversando, falando porcaria, jogando sinuca, e bebendo no bar do Nelson, do Tuti. Saudade do papo dominical com o Pazini da revistaria, do elogio às melâncias vendidas no sacolão, o cheiro inebriante das carnes assadas no mercado do Minoro , invadindo o bairro todo, misturando-se com o daquelas caprichosamente "queimadas" nos quintais das casas.
Domingos tristes, difíceis e morosos. Isso se foi.
São oito horas da matina bonita, quente e ensolarada. Lá no quintal, as cadelas latem inutilmente para os balões que começam a surgir. Lá por 10 horas vou caminhando pro Borba (saudade da bicicleta), cumprimentarei pessoas conhecidas vindo com o pão (domingo dorme-se até mais tarde); vou curtir a balbúrdia na porta do Minoro, com um mundaréu de fregueses no entra e sai, carregando sacolas com carne, cerveja, sacos de carvão, o vidro de Hellman's pra indefectível maionese; um carro vai passar com o "tunf-tunf" irritante na maior altura; o seu João vai levar seu jovial barrigão pra jogar bingo no Gaiola; Nelson com seus 20 e tantos fregueses com copos na mão, a turma do fumacê na calçada, baforando e vendo o pessoal retornar da missa; as senhoras bem vestidas irão balançar a cabeça diante daquele "antro de perdição".
O cardápio do almoço de domingo vai ser elencado por quase todos; sardinha na brasa; sozinho em casa- a mulher e a "fia" viajaram, queima-se a panela; sobrou feijoada de ontem que pegou no Seu Menino; o cunhado vem pra gente queimar uma carne; curimba assado; bisteca de boi, macarrão e maioneses; muito calor, muita salada, nem dá vontade de comer carne; Coca de dois litros, vinho Crevelin, três Schin que amanhã eu trago os casco.
Mais uma com limão; dá três fichas pra mim depenar o pato; vai fumar lá fora- sabe lê, não?; hoje tem Verdão na Tv; quatro com essa, a muié deve tá uma arara; acabou o limão; tchau, vai pela sombra.
Aproveite esse belo domingo.
3 comentários:
Lukas,
Belo texto, senti até o aroma da carninha assada.
Apesar da secura - e até por ela - o domingo está realmente belo.
Curta bem este final de tarde.
abraços
Helena.
oi Lukas,
com mais essa linda crônica do Borba, eu fico aqui imaginando esse mesmo domingo em um condomínio fechado, acho que essas pessoas não sabem o que estão perdendo por não viverem a cidade. Tudo em nome da segurança, você se sente ameaçado por essa amistosa vizinhança? Claro que não. Perigoso mesmo é ser atropelado por um desses moradores de condomínio que aceleram na cidade, desesperados para voltarem ao interior de suas fortalezas.
bom domingo pra você também
Belíssimo texto, é isso que eu chamo de prosa poética, digna de um Steinbeck, parabéns!. Retrata bem o feliz momento que vivem os brasileiros.
Abraços,
João Francisco de Oliveira
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