29.11.08

Coisa linda

Gilberto Freyre (1926)

O outro Brasil que vem aí
Eu ouço as vozes
eu vejo as cores
eu sinto os passos
de outro Brasil que vem aí
mais tropical
mais fraternal
mais brasileiro.
O mapa desse Brasil em vez das cores dos Estados
terá as cores das produções e dos trabalhos.
Os homens desse Brasil em vez das cores das três raças
terão as cores das profissões e regiões.
As mulheres do Brasil em vez das cores boreais
terão as cores variamente tropicais.
Todo brasileiro poderá dizer: é assim que eu quero o Brasil,
todo brasileiro e não apenas o bacharel ou o doutoro preto,
o pardo, o roxo e não apenas o branco e o semibranco.

Qualquer brasileiro poderá governar esse Brasil
lenhador
lavrador
pescador
vaqueiro
marinheiro
funileiro
carpinteiro
contanto que seja digno do governo do Brasil
que tenha olhos para ver pelo Brasil,
ouvidos para ouvir pelo Brasil
coragem de morrer pelo Brasil
ânimo de viver pelo Brasil
mãos para agir pelo Brasil
mãos de escultor que saibam lidar com o barro forte e novo dos Brasis
mãos de engenheiro que lidem com ingresias
e tratores europeus e norte-americanos a serviço do Brasil
mãos sem anéis (que os anéis não deixam o homem criar nem trabalhar).

mãos livres
mãos criadoras
mãos fraternais de todas as cores
mãos desiguais que trabalham por um Brasil sem Azeredos,
sem Irineus
sem Maurícios de Lacerda.
Sem mãos de jogadores
nem de especuladores nem de mistificadores.
Mãos todas de trabalhadores, pretas, brancas, pardas, roxas, morenas,
de artistas
de escritores
de operários
de lavradoresde pastores
de mães criando filhos
de pais ensinando meninos
de padres benzendo afilhados
de mestres guiando aprendizes
de irmãos ajudando irmãos mais moços
de lavadeiras lavando
de pedreiros edificando
de doutores curando
de cozinheiras cozinhando
de vaqueiros tirando leite de vacas chamadas comadres dos homens.
Mãos brasileiras
brancas, morenas, pretas, pardas, roxas
tropicais
sindicais
fraternais.
Eu ouço as vozes
eu vejo as cores
eu sinto os passos
desse Brasil que vem aí.

Esse poema de Gilberto Freyre (1900-1987) é introdução (não tem nada a ver com o livro) de Casa-Grande e Senzala, o qual estou tentando terminar de reler já vai pra cinco meses!!!
Mas eu chego lá...
Tô lendo devagar. A bagaça tem 719 páginas. E é preciso ter muita calma e paciência nessa hora.
O lance é que o livro destrincha o Brasil colonial e a gente não tem paramêtros pra distinguir nossa época do século 16, o qual ele descreve. Vou falar por mim: Eu leio um trecho, fecho os olhos e fico imaginando as cenas.

2 comentários:

Anônimo disse...

Já que tive a prepotência de sugerir uma leitura para Vc, veja o que foi escrito em 2006 no Le Monde Diplomatic:

"A guerra do Iraque é muito cara. Em 2005, as despesas militares dos Estados Unidos atingiram os 500 mil milhões de dólares [13] , ou seja, tanto quanto as do resto do mundo. É imenso. Sobretudo quando, em consequência da globalização, o seu sistema económico já não assenta apenas na sua capacidade manufactureira, mas igualmente no consumo. A América actua como uma bomba de finanças, importando capital ao ritmo de 700 a 800 mil milhões de dólares por ano, capital este que financia o consumo de bens importados.

Uma tal bombagem do dinheiro mundial disponível cria uma situação insustentável. O défice comercial americano pesa nas finanças internacionais, podendo conduzir a um abaixamento do dólar, a um aumento das taxas de juro, a uma queda das Bolsas [14] e a uma recessão mundial. É um dos principais problemas (invisível) de hoje".

O texto completo está em:
http://pt.mondediplo.com/spip.php?article58

Celso

Anônimo disse...

o, lukas,
dá um toque no seu amigo rigon, pois o danado, sabe la porque, continua reproduzindo secçoes da revista veja toda semana. hoje tem Radar novamente. Noticia plantada, para detonar pessoas e instituições e atender interesses de poderosos (leia-se daniel dantas)