6.9.08

Perdemos um cara genial

O jornalista e escritor Fausto Wolff, de 68 anos, morreu ontem à noite de disfunção múltipla dos órgãos, no Rio de Janeiro, em razão de complicações de uma tromboembolia pulmonar.
Fausto Wolff era o pseudônimo do gaúcho de Santo Angelo, Faustin von Wolffenbüttel. Wollf foi um dos editores de O Pasquim e era um crítico mordaz da política e militante da esquerda.
Tio Lukas é fã do cara. Leia texto publicado em sua coluna no JB. Como sempre, genial.

Morte aos genocidas
Dizem que, durante uma entrevista na TV, Sandra Cavalcanti defendeu a pena de morte. Jaguar, um dos entrevistadores, teria perguntado:
- O que a senhora sugere: garrote vil, afogamento, decapitação ou fogueira?

Sempre fui contra a pena de morte e passei a achar que os Estados Unidos eram governados por psicopatas quando, ainda garoto, soube que Ethel Rosemberg fora assassinada pela Justiça americana na cadeira elétrica. Era pequenininha e aqueles cintos de couro e metal não apertaram bem suas pernas. Ainda viva foi eletrocutada novamente, ocasião em que sua cabeça quase pegou fogo.
Mais tarde fui a favor da pena de morte para os que eram a favor da pena de morte. Depois mudei de idéia. Não se pode matar alguém apenas por ser burro, caso contrário nem teríamos gente aparecendo na TV. Voltei a ser a favor da pdm para molestadores de crianças.
Repensei a coisa: bastaria capar o molestador de modo a que ele, como no samba do Aldir, entrasse na câmara como Sandoval e saísse Ana Maria. Finalmente me decidi: sou a favor da pena de morte para genocidas. Esse pessoal com cara de bonzinho que pega milhões de dólares do povo e manda para contas no exterior no nome deles.
Existem milhares desses monstros no Brasil e o que matou menos crianças matou umas cem. Fuzilamento em praça pública.
Esses políticos, banqueiros e executivos públicos e privados têm cara de tio da gente. Outros, porém, têm cara deles mesmos, como o Roberto Jefferson. Já fez de tudo para mudar de cara mas acaba sempre reconhecido.
Há sempre alguém que grita ''Olha o Jefferson ali'', e ele sorri agradecido enquanto a turba aplaude. Outro dia lembrei-me do atual presidente do PTB (continuam torturando o Getúlio depois de morto), ao observar um homem precocemente envelhecido.
Vestia terno, gravata, sapatos gastos, mangas do paletó e da camisa puídas, uma gravata preta, lisa e brilhante de tanto ser passada.
Era pouco mais de meio-dia e ele estava cansado. De onde bebia meu chope no balcão do boteco verifiquei que ele hesitava entre empadas, pastéis, quibes e outros salgadinhos. Finalmente, depois de informar-se do preço, decidiu-se por um quibe e uma média. Acabou de comer, meteu a mão no bolso, contou os trocados. Pagou.
Por um lapso de minuto, pensou em pedir outra coisa, mas era um pai de família, fez as contas e achou melhor não. Fiquei ainda 15 minutos no bar e quando saí vi o homem sentado no banco de uma pracinha. Cotovelos sobre os joelhos e as mãos escondendo o rosto. Essa cena de humilhação e vergonha ocorre centenas de milhares de vezes por dia pelo nosso país.
Para os jornais, porém, ele não é um homem que tem vergonha de voltar para casa e dizer à mulher e aos filhos que não conseguiu emprego. Para os jornais, ele é apenas uma estatística. Este homem é apenas um dos milhões de prisioneiros políticos deste país bichado. A moça que saiu de casa e virou prostituta; a professora repudiada pelo marido por não receber aumento há mais de 20 anos e por haver perdido a sua feminilidade; a velhinha que vive de favor na casa da nora e prefere ser humilhada a ser assassinada num asilo; o garoto sendo invadido pelo lixo da TV, pois as mães deixaram de ser mães para serem caixas de supermercado; a jovem formada em letras que passa o dia telefonando para ver se consegue vender um plano de saúde que ninguém pode pagar.
Esses são os vossos personagens, jovens jornalistas. Ai se um deles roubar um pão como Jean Valjean [personagem de Os Miseráveis, de Victor Hugo]. Acabará numa cela sórdida, onde acabará sodomizado e morto. Pois, como lhes disse há alguns parágrafos, ao ver o homem desempregado contando o dinheiro para comer um quibe pensei no Roberto Jefferson sendo aplaudido pela multidão por ser esperto; sendo abraçado por Lula, José Dirceu & Cia. Voltei a pensar - ilusória esperança - na pena de morte para os genocidas.
Não estou exagerando. Há pessoas, principalmente mulheres, presas há anos por roubar um desodorante, um par de meias e coisas do gênero. Breve, pretendo provar o que lhes digo.

3 comentários:

Anônimo disse...

Você tá bem cumpadi? ...

Anônimo disse...

Bacana o texto tio Lukas. Acho que você é fã dele porque seus textos (quando você escreve!!) lembra ele.
Não conhecia esse cara e agora vou procurar me inteirar a respeito dele. Parece ser legal. Deus o tenha. E obrigado por me apresentar a ele.
Diogo.

Anônimo disse...

Texto muito bom.
Sempre gostei dos textos do Fausto.

Quem lia Pasquim, Bundas, Caros Amigos, já conhecia o cara.

O problema é que a maioria do povo dessa merda só lê a Veja.