Como tem gente chata

Tem um botecão no Borba Gato e, de vez em quando, vou lá pra espairecer. Geralmente levo um livro, pego uma latinha e fico na minha.
Mas não é que sempre chega dois caras (eles sempre agem em dupla, pra te cercar- êta raça!). Tem oito bancos no balcão e duas mesas, mas eles vêm bem em cima de mim. Me cercam.
Dia desses tinha quatro, cada um com um cigarro aceso. Por que eles não vão lá pro outro lado do bar? Mas não. Tio Lukas é quem a gente tem que incomodar. "Olha lá... ele tá na boa.Vamos fazer um mutirão e acabar com dia dele com nosso papo".Li a mesma linha umas cinco vezes e, pra não ser rabugento. Tive que dar atenção pra um deles que começou a falar sobre uma merda de festa dos dias das mães; que teve que comprar um monte de presente, essas coisas. Esse cara (do dia das mães) tem o hábito de começar um papo e não terminar a primeira frase.
Nesse dia ele falou (eu com o livro aberto pra ver se ele se tocava- vai embora filho da mãe, deixa eu ler o Buk, pensei)
- Ontem eu perdi o sono, Lukinha... e passou um filme legal ... (eternidade pra ele continuar o papo, olhando pra mim). E não falava nada e eu com o livro ali. Aí eu disse:
- Fala carai, continua a conversa. Que filme era? (Como se eu estivesse interessado). Aí chega o Cabelo e pergunta algo pra ele. Ele vira pra conversar, eu volto pro livro e pra cerveja, e aí chega o Zé Hilário.
- Que que cê tá lendo aí?- já metendo a mão no livro.
- É um escritor americano, já morreu, em 94. Charles Bukowski- eu falei.
Aí ele pegou o livro pra ler a "orelha" e começou a falar sobre um livro chamado "O Caminho de Tibagi", nada a ver comigo. E blá blá blá e o bom e velho Bukowski ali olhando pra mim, na mão dele- uma heresia-a cerveja esquentando, eu ficando nervoso e aí chega mais um povo e eu paguei a cerveja, catei o Buk e caí fora pra casa. Eita povo xarope.
(Esse texto foi publicado do blog Os Rabugentos, dimim e do Bulga. Como ninguém lê aquela trolha, republico aqui, que tem mais audiência- 5.438 visitas ontem, depois da janta)