23.2.08

Almoço com sangue? Que tragédia deliciosa

Como é gostoso almoçar assistindo os programas denominados de “policiais” que passam na TV:

O feijão fica mais carregado com seu forte caldo ao ver o sangue escorrer ao chão, depois de uma tragédia fresquinha. O arroz cozido desce bem mordido, assistindo restos de estômagos jogados ao asfalto.
A carne? Que delícia! Misturado a farinha de tiros a decepar dedos das mãos. Pernas, mortes, balas, facas, macarrão, garfo, prato e faca repartindo o alimento para próxima degustação. Oh, meu Deus! Como é gostoso almoçar vendo desgraça na televisão. Pernas estendidas, multidão sorrindo ao fundo. Que delícia!
Meninos pulando, disputando um pedaço da câmara e corpo ao chão. Nem velas, nem panos e meninos gesticulando o “L” do leão dos estádios. E desce um gole de suco, corta o feijão ao meio. Desespero das mães, lágrimas dos pais, morde o ovo com a língua. Crime, come, come, crime. O apresentador sorrir na televisão. Vende o peixe, candidato a prefeito nas próximas eleições. Vai aos bairros e fica de bem com o povão. Finge de bom e fica bravo, espumando o televisor. Que carne dura, o suco acabando, a barriga enchendo, o olho colado no buraco da bala. Policiais celebridades a dar entrevistas. Microfone sujo de sangue. Policiais a exterminar o prato. O macarrão quer cair da boca.
Drogas e armas, enquadrado do artigo do cão. Close no cadáver, óbito do feijão, falecimento do arroz, falta só o macarrão. Câmara passando o carnaval da população. Perfurações a levar o alimento ao ânus. Comerciais em ação. E vende bebida, e vende desgraça, e volta para o sangue do corpo estendido ao chão. Que desgraça é a televisão! Almoço acabado, amanhã tem mais. Vômito ao cadáver, nos pés do reporte odioso. (Tiago Viana)

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