Som ao vivo

Tem muita coisa que eu não gosto; dezenas delas (talvez centenas). Mas se tem uma coisa que me dá nos nervos é o tal do som ao vivo em bares e casas noturnas. Volta e meia vamos na Cachaçaria Água Doce porque é perto de casa e dá pra ir e voltar a pé. Tem um garçom que a gente conhece há 13 anos; o rango (apesar de meio carinho) é de primeira, a cerveja bem gelada e o dono é nosso vizinho -o que renderia um fiadão, caso necessário.
Mas daí a porca torce o rabo: tem som ao vivo. Vamos imaginar a cena:
Você e mais alguns amigos juntam três mesas na calçada e dá-lhe comer, beber e conversar- que é o básico num bar. A mulherada batendo papo, todos colocando as fofocas em dia, maior animação.
Aí lá por 10 horas dá aquele frio na barriga e você vê que a noite vai pro pau: o violonista e cantor começa a afinar o instrumento e dizer "alô, som". Aí fudeu. A coisa vai vir quente. Respeito a moçada que toca na noite, claro, são artistas, assim como eu me considero. É o ganha pão caras. Mas aí, então...
Pode ficar de olho no garçom pra pedir a conta. Mas daí tá todo mundo conversando e você não quer dar uma de chato (como se ninguém soubesse que você é chato até o calo do dedão do pé).
E aí tem um cara ao seu lado mas você estava conversando com o que estava ao lado dele. E começa a musiqueira e você tem que começar a gritar pro cara te entender. Ele não tá entendo porra nenhuma e fica balançando a cabeça pra dizer que tá te escutando. Se você chamar ele de corno ou bicha ele vai balançar a cabeça consentindo porque ele não tá ouvindo nada do que você tá falando ( eu tô dizendo isso porque já fiz a experiência num outro boteco com som ao vivo).
Aí todo o mundo começa a falar alto e os caras começam a cantar mais alto pra superar a conversa dos fregueses e aí dá vontade de você estar na sua cama jurando ficar 240 anos sem ir a lugares que tem som ao vivo.
Mas, voltemos ao cara com quem você está gritando e que está fingindo que tá te ouvindo. O que está imediatamente ao seu lado afasta um pouco o corpo na cadeira pra te dar mais liberdade (periga o cara afastar muito o corpo naquelas cadeiras de plástico sem-vergonhas, ela virar e ele cair de nuca na calçada). Mas pode ser que ele não se afaste e aí você tem que esticar o pescoção pra tentar fazer o outro te ouvir e nessa você esbarra o cotovelo no copo de cerveja que entorna em cima do maço de Free cheinho da moça que está ao seu lado e ela dá um gritinho e todo mundo pára de falar pra ver a coisa. Desculpas mil (na verdade dá vontade de mandar todo o mundo pra puta que pariu- que que eu tô fazendo aqui?). Aí você chama o garçom (aquele que você conhece já vão 13 anos!) e ele demora quase 10 minutos pra trazer um pano. Nessas alturas você já nem lembra o que tava falando pro cara. Ele se vira e fica olhando pra uma gostosa que acabou de chegar com o namorado.
E os caras lá "Iolanda... eternameeeeente Iolanda". E alguns vidrados, cantando junto e balançando a cabeça.
Meus Deus!!