9.9.07

Victor Jara

Terça-feira vai fazer 34 anos do golpe no chile.

O dia 11 de setembro de 1973, quando o golpe militar comandado pelo ditador Augusto Pinochet derrubou do poder a Salvador Allende, o compositor e cantor Victor Jara foi preso com outros 600 estudantes na Universidade onde trabalhava. Levado para o Estádio Nacional em Santiago, nesse mesmo dia foi torturado e assassinado pelos militares. Dias depois, sua mulher, Joan Jara, identificou o corpo do poeta, fuzilado e com as mãos amputadas [para não tocar e não escrever mais nada, como disse um militar antes de decepar suas mãos]. No estádio, escreveu seu último poema.

"Somos cinco mil nesta pequena parte da cidade. Somos cinco mil.
Quantos seremos no total, nas cidades e em todo o país?
Somente aqui, dez mil mãos que semeiam e fazem andar as fábricas.
Quanta humanidade com fome, frio, pânico, dor, pressão moral, terror e loucura!
Seis de nós se perderam no espaço das estrelas.
Um morto, um espancado como jamais imaginei que se pudesse espancar um ser humano.
Os outros quatro quiseram livrar-se de todos os temores um saltando no vazio, outro batendo a cabeça contra o muro, mas todos com o olhar fixo da morte.
Que espanto causa o rosto do fascismo!
Colocam em prática seus planos com precisão arteira, sem que nada lhes importe.
O sangue, para eles, são medalhas.
A matança é ato de heroísmo.
É este o mundo que criaste, meu Deus? Para isto os teus sete dias de assombro e trabalho?
Nestas quatro muralhas só existe um número que não cresce, que lentamente quererá mais morte.
Mas prontamente me golpeia a consciência e vejo esta maré sem pulsar, mas com o pulsar das máquinas e os militares mostrando seu rosto de parteira,cheio de doçura.
E o México, Cuba e o mundo?
Que gritem esta ignomínia! Somos dez mil mãos a menos que não produzem.
Quantos somos em toda a pátria?
O sangue do companheiro Presidente golpeia mais forte que bombas e metralhas.
Assim golpeará nosso punho novamente.
Como me sai mal o canto quando tenho que cantar o espanto!
Espanto como o que vivo como o que morro, espanto.
De ver-me entre tantos e tantos momentos do infinito em que o silêncio e o grito são as metas deste canto.
O que vejo nunca vi,o que tenho sentido e o que sinto fará brotar o momento..."

(Em 2003 o estádio foi rebatizado com o nome do artista)

E de vez em quando eu ouço pessoas pedindo a volta do militarismo no Brasil.

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