27.9.07

Dona Constância

Hoje conversei com dona Constância, num ponto de ônibus, na avenida Nildo Ribeiro. Ela tem 92 anos e chegou em Maringá (?) em 1945. Me disse que há muito não recebe ajuda da Secretaria de Assistência Social; tem uma pensão de um salário mínimo e paga 150 reais de aluguel no Jardim Universo. "Mal dá pra comer", falou, sem um dente na boca e pele toda enrrugada.
Mãe de quatro filhos, o mais novo é o único que mora em Maringá, tem 54 anos e é portador de diabetes. "As pernas dele é da cor dessa tua calça [apontando minha roupa azul escura]. Acho que é trombose, coitado".

Eu estava no bar do Tuti quando vi uma moça dar informação errada a ela, lá do outro lado da rua. A mulher indicou um ponto que ia em sentido contrário ao centro. Como pobre atrai pobre, eu percebi que a coisa tava esquisita, e não deu outra. Fui lá perguntar pra onde queria ir. Ia pro centro, fazer um exame de vista. O tempo todo ela ia limpando com a mão os olhinhos lacrimejantes.
Aí a gente atravessou a avenida e indiquei o ponto certo. Nos sentamos no banco e proseamos por uns 20 minutos ( e minha latinha esquentando lá no Tuti!!!). Me mostrou documento que prova que nasceu em 1915. "Meu marido derrubou árvore pra fazer nossa casinha. Sou viúva faz 30 anos e moro sozinha. Eu fiquei sabendo que eles estão dando casa pra quem é pioneiro e eu também queria uma. Queria ir na Prefeitura pedir."
"Onde é que fica o Pinga Fogo? Eu precisava de óculos?" perguntou. Ensinei à ela pra pegar a linha 459 e o endereço da rádio. Ela estava com uma sacola na mão e veio a pé do Universo até perto do Borba Gato pra passar em um lugar que distribui verduras e legumes de graça. (eu não entendi onde ´local) "Eu errei. Era ontem que eles iam dar, agora só na semana que vem", comentou.
Acho que o lugar que ela foi é alguma Pastoral. Bom... mas daí a circular virou na rua de baixo, eu tirei meu único deizão do bolso (eu não uso carteira) , e coloquei em cima do banco e puxei a mão dela em cima, dizendo pra ela pegar, de coração. Ela disse que eu não precisava me incomodar e eu falando que eu tinha que me incomodar, sim, e a circular vindo numa velocidade da bixiga; o vento levou a nota pruma data vazia cheia de mato, e a circular vindo e eu acenando pra parar e correndo atrás da grana (ufa!).
Deu certo que o motorista deve ter percebido a coisa e a idade da mulher e parou. Pegou a graninha da minha cerveja e se foi.
Aí eu pedi pro Tuti pendurar as duas latinhas. " À tarde eu pago. Eu tinha dez pilas mas dei praquela mulher lá no ponto (elehavia visto eu conversando com a senhora). E sabem o que que o cara fala pra mim?
"Ué. Por que que você deu o dinheiro pra ela?" E eu, ironicamente: "Porque o dinheiro é meu e eu faço o que eu quiser. Não vai fazer falta e tem muito mais de onde ele veio".
Eu não entendo certas pessoas. Alma, sentimento, cordialidade, gentizela, bem-querer, simpatia, solidariedade, amizade e ajuda ao próximo parece que foi riscada do mapa para muitos.

2 comentários:

Anônimo disse...

Parabéns Lukas, você é uma ave rara. Por isso, Deus lhe dá em dobro e a mesa é cada vez farta na Casa do Noca.Não me diga que farta catupiri, farta goiabada cascão, farta caviar, farta gravióla. Se disser isso, estará desmanchando o ninho da Fênix que, mesmo queimada na parada com tanta injustiça social, continua botando deizão.
Messias

Anônimo disse...

Meus Parabens Lukas, sua atitude além de cordial foi louvavel, digno de um homem de coração puro que sabe muito bem oque é a dificuldade (pelas suas histórias contadas no blog). Deus te abençoe