31.7.07

Um dia frutífero mas nem tanto

Confesso que sou um jacu daqueles, e não meu saio bem em ambientes amplos, tipo salões de festa de casamento e corredores de shoppings. Mas hoje pela manhã tive, tive mesmo, que encarar o Avenida Center, bem na Praça de Alimentação, no segundo andar.
Entrei com a cabeça baixa. Não olho pra ninguém e ignoro as vitrines; louco pra cair fora logo. Cheguei com minha mochila no ombro; dentro, a agenda e um livro do John Steinbeck, pra ler no ônibus. Tive que perguntar para um segurança onde ficava a escada rolante. Já fazia mais de cinco anos que não entrava ali. Achei a tal da escada, rolei pra cima e dei de cara com a dita praça, cheia de mesas e cadeiras. Sorte que, devido ao horário, não tinha ninguém. Me odiei por estar ali, mas, a gente tem que sobreviver.
O dono de uma franquia americana de sanduiches havia me ligado na véspera, querendo anunciar em minha coluna no jornal de domingo. Conversamos um tempão e fechamos negócio até final de 2008. Um cara muito bacana. Nos despedimos. Fiquei com vergonha de perguntar onde ficava a escada rolante pra descer. Na verdade acho que me esqueci de perguntar.
Comecei a andar no pavimento, tranquilo, sem ligar pra nada, sem olhar pra ninguém e, uns 5 minutos depois, achei a saída para a avenida São Paulo. Desci as escadas e atravessei a faixa rumo ao terminal rodoviário. Falei um oi para um flanelinha. Eu flutuava de felicidade. Minha mochila no ombro e "A rua das ilusões perdidas", do Steinbeck, dentro dela.
Na avenida Tamandaré uma mulher com uma criança me pede dinheiro. Tenho seis reais no bolso ( não uso carteira) e dou tudo pra ela e ela nem acredita, agradece e fica parada olhando pra mim. Eu caminho e olho pra trás e ela ainda está lá, me olhando. Eu fico com raiva de mim mesmo por não ter mais dinheiro pra dar a ela. Não é a primeira vez que isso acontece.
Vai, mulher. Vai lá, ser um pouquinho menos infeliz com esse dinheiro. Vai comer alguma coisa. Vai ter muito mais de onde veio esse. Reze por mim quando estiver deitada em sua cama fria que eu rezo por você todas as vezes que me lembrar do seu rosto cinza e triste.
E você sabe, e eu também o sei, que essa sua criança, mesmo vivendo 100 anos, nunca irá usar a escada rolante de um shopping, e nunca sentirá o sabor de um sanduiche desse lugar.

2 comentários:

Andye Iore disse...

às vezes eu faço isso também... alguém tem q fazer, né?!
um sorriso desse povo vale mais q mta coisa q gente tem e nem se importa...

Anônimo disse...

Eu já gosto de coisas luxuosas e chaias de muito glamour. 'As vezes, porém, sou obrigado a usar o banheiro do terminal. Se você deu todo o dinheiro para a mulher, você tinha cartão Passe Fácil, certo? Isso é moderno!