26.6.07

O velho "Pasca"

"Entre sem bater", pedia o aviso na porta da redação. A frase, de um velho humorista conhecido como Barão de Itararé, não se referia à porta, mas ao pessoal que trabalhava atrás dela. Foi com essa irreverência debochada que O Pasquim, semanário carioca fundado em junho de 1969, desafiou a truculência do regime militar.
Sete meses antes, em dezembro de 1968, o presidente Costa e Silva havia assinado o Ato Institucional número 5, cassando direitos políticos e fechando o Congresso Nacional. Opositores foram presos, mortos ou exilados. Nesse panorama sombrio, um grupo atrevido – comandado pelo cartunista Jaguar e representado pela figura do ratinho Sig – decidiu lançar um tablóide contestador para cutucar com vara curta as onças do poder.
A equipe contava com nomes de peso, entre eles Ziraldo, Millôr, Paulo Francis e Henfil. Colaboradores como Vinícius de Moraes, Jô Soares e Glauber Rocha juntaram-se ao time.
Liberdade de expressão: Sig, mascote do jornal, cutucou militares com vara curta e Leila Diniz deu uma entrevista escandalosa para os padrões da época.
Entrevistas informais, sem roteiro preestabelecido, enfocavam áreas diversas. Numa semana o arcebispo Paulo Evaristo Arns defendia os Direitos Humanos; na outra, a atriz Leila Diniz chocava os conservadores ao falar de sua vida sexual.
Uma atração à parte era o slogan da primeira página, que mudava a cada edição. Por exemplo: “Quem é vivo sempre desaparece”, “Um jornal que não pode se queixar” e “Um jornal capaz de ouvir e entender estrelas, principalmente quatro”.
Charges, caricaturas, dicas culturais, quadrinhos, artigos informativos e opinativos, fotonovelas... tudo cabia nas páginas de O Pasquim. Além da política, o outro alvo predileto da publicação eram os preconceitos da classe média. A fórmula agradou, pois a tiragem inicial de 20 mil exemplares elevou-se para 200 mil em um ano. Mas a ousadia teve seu preço.
Em novembro de 1970, quase toda a equipe foi presa por alguns dias sem maiores explicações. Houve números recolhidos das bancas. Foi instituída a censura prévia. As pressões afastaram anunciantes e intimidaram distribuidores.
O Pasquim entrou em uma crise financeira da qual nunca se recuperaria. Ainda assim, sobreviveu até 1989, saboreando a anistia e a retomada da democracia no país, vitórias nas quais teve papel decisivo.

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