26.1.07

Meus furtos- parte 4

De quando eu fui em cana por causa de um pacote de calabresa:
Eu saí com o pacote de calabresa embaixo da camisa;a gente ia usar pra fazer pizza. O vigia do Musamar mandou eu parar e jogou cassetete entre minhas pernas. Caí, me esfolei todo, perdi o chinelo, tentei argumentar com o gerente, um japonês filho de quenga e com os policiais- uns filhos da puta que estudavam na minha sala do Colégio Paraná- mas, mesmo assim, me levaram pro corró na avenida Paraná.
Eu já tinha 18 anos mas falei que tinha 17 (eu nunca carrego documentos). Me largaram no corró, eu e mais quatro caras. Uma escuridão total. Deu lá por 2 da manhã e os policiais prenderam um puta e me pediram pra ajudar a segurar a mulher. Ela estava completamente maluca. Aí eu pensei: se eu ajudar, posso ficar com moral e eles me soltam. Ela gritava: " seus comedor de aborto, seus comedor de aborto!!" E eu grudado nela com mais três policiais. Levamos a biscate pra uma cela "especial" onde ela ficou chingando por um tempão. E eu pensava: já que eu ajudei eles vão me soltar. Doido pra voltar pra casa, sem saber o que ia contar pra mãe e à mana.
De repente um cara começou a cuspir em mim. Me lembro que ele fazia bochecho e cuspia. Tudo escuro, e eu não podia falar nada, com medo de levar porrada. E ele cuspia e cuspia. E eu descalço, com a camisa e calça rasgadas e sem saber o que falar em casa. Meu Deus.
Aí deu cerca de 5 horas e começaram a chamar o povo pra soltura. Deu 7 horas e tio Lukas estava sozinho na cela. Deu o maior desespero e comecei a bater na porta da cela pedindo pra me soltarem, agarrava nas grades da janela que dava pro pátio das viaturas e gritava que nem condenado pra me soltarem.
Passou um pouco e me libertaram graças ao amigo Kendi, que hoje está no Japão. Minha mãe havia ligado pra ele perguntado se eu estava dormindo em sua casa. Maior vergonha. Ele ficou tão decepcionado comigo que nem me esperou pra levar pra casa (ele tinha um Maverick). Abriram o portãozinho...
Aí eu saí correndo pela avenida Paraná, descalço, com a calça e camisa esfoladas devido ao tombo, com aquele monte de pessoas passando por mim, circular lotada, pessoas indo pro serviço, pras escolas. Me lembro que fechei os olhos, me almadiçoei e imprequei em mim todas as maldições que lembrava enquanto cruzava por aquele povo abençoado por Deus, indo pros seus afazeres. Aquilo era gente. Eu não. Eu me senti outra coisa que não gente. Quando cheguei no asfalto da UEM, que liga à Vila Esperança, sentei no meio-fio e chorei feito um condenado. Eu era um bicho.

6 comentários:

Anônimo disse...

Rapaz. Sou teu fã há anos. Agora sou mais ainda depois de ler essas suas histórias. Você tinha tudo pra cair na marva e sobreviveu. Acho que essa tua vivência te transformou em quem você é. Parabéns. Espero um dia te conhecer.

Anônimo disse...

Penso que esta passagem pela delegacia salvou você da marginalidade, pois serviu para refletir e espero que não tenha repetido tal situação em sua vida.
E sua mãe, ficou sabendo desta sua prisão?

Anônimo disse...

Oi, Leni. Ficou sim sabendo sim. Foi muito embaraçoso. Muito triste. Fiquei sem comer por uns 15 dias, e quando comia era uma mixaria, pois ficava achando que eu era um estorvo na família. Depois disso nunca fiz nada de errado e dei muita alegria pra minha mãe. Que Deus a tenha

Anônimo disse...

Belos depoimentos, Lukas. E belos não tanto pelo que informam, pelo que contam, mas pelas imagens que criam no leitor, definindo um ser humano tão especial e gigante, como você. Um forte abraço, meu querido.

Anônimo disse...

Fala verdade, o cara te cospia de tanto rir das tuas piadas não é mesmo?? rsrsrs. brincadeirinha tá.

Anônimo disse...

Lukas, parabéns cara. Leio tua coluna desde que eu aprendi a ler - tá, confesso que não entendia todas as charges no começo - e hoje posso constatar que você é um dos melhores chargistas que eu conheço - já tentou mandar para a Folha ou um jornal maior? Acho que você tem peito pra isso.
Parabéns por esse trabalho!