24.1.07

Meus furtos- 2

Nos 70's, tinha aí os meus 10, 12 anos e já gostava de desenhar, coisa que ainda tento aprender. Durango que a gente era, sem um pardal pra dar água, me habituei a furtar estojos de canetas Sylvapen no Mercado Moura, localizado na avenida Morangueira. Chegou época em que eu possuia cerca de meia dúzia de caixinhas roubadas do mercado do português, o seu Moura.
O básico era entrar no mercado, mecanizar o estojinho dentro do shorts e passar no caixa perguntando se tinha óleo de soja. A moça, filha do dono dizia que não, claro (na época faltava o produto) e eu caia fora com o objeto desejado embaixo da camiseta.
Chegando em casa punha as canetas em cima do guarda-roupa do meu quarto, dentro de uma velha mala de papelão. Até hoje, de vez em quando, sonho que estou subindo numa cadeira pra pegar canetinhas e morrendo de medo de minha mãe me flagrar. Eu vejo as canetinhas e é um sonho muito legal.
Outra coisa em que eu metia a mão era chocolate. Aprendi com o Marquinhos, meu xará, que foi embora pra Campinas em 81 e é quase certeza que já foi pro pau de tanto usar drogas, ele e o Carlinhos, seu irmão. A mãe dele até comprou um caixão e colocou no quarto deles pra ver se assustava mas acho que não assustou porra nenhuma e eles já foram.
Mas, tá... voltando aos nosso furtos... A gente chegava na Mercantil Rodrigues, também na Morangueira, no Moura ou na Casas Fuganti, dava um rolê e enfiava um pacote de três barras de Galak embaixo da camiseta. Na saída a gente perguntava pra moça do caixa se tinha iogurte de uva. Com a resposta negativa, lógico, a gente caia fora dos mercas e se lambuzava de chocolate.
Gibi eu cansei de furtar nas Casas Fuganti, na avenida São Paulo, ao lado das lojas Genko. Até da banca do Tazima, quando o pai dele era quem tocava a banca que ficava na calçada. Cadarço de Kichute eu tinha coleção, pena que só tinha um tênis velho. Mas o cadarço tava sempre novo. O dono do mercado se tocou e tirou os cadarços, que, a partir de então, ficavam nos caixas.
Certa vez a gente tava descendo a rua Vitória, na Vila Esperança, eu e mais quatro amigos. Pulamos um muro, abrimos a porta de uma Kombi e levamos uns 5 quilos de maçãs cada um. Pior que tinha um monte de cachorros no quintal e não deu nada. Parece que eles sabiam que a gente estava faminto e respeitaram. Comemos maça até o cajú fazer bico e ainda levei pra casa. Falei pra mâe que tinha ganhado.
Por essa época a gente voltava do centro (sei lá o que fomos fazer) e passamos por um caminhão estacionado em frente às Casas Moreira. A lona estava solta e não deu outra. O Neno enfiou a mão e trouxe uma lata de salsichas. Aí abriu a porteira. Só eu eu enchi a camisa com oito latas. Descemos o viaduto da avenida São Paulo correndo, e, quando estávamos na metade do caminho, o vigia saiu correndo atrás da gente. No meu desespero enfiei as latas numa tubulação que saia do prédio da Pneumar e continuei no pique. Paramos perto de nossas casas e comemos tudo, sem deixar de cuspir, já que tava dando nojo.
Outra hora eu publico de quando eu fui detido e passei a noite no corró da avenida Paraná, após ser preso no Musamar, furtando um pacote de calabresa.
Tio Lukas já foi muito mau. E pobre.

9 comentários:

Anônimo disse...

Cê já pediu perdão pra Papai do Céu né fio?...

Anônimo disse...

Se tivesse levado a profissão a fundo, hoje seria lider do PCC. Já imaginou as paredes das celas todas cobertas com desenhos do Vagauzinho? Você editando seus quadrinhos no Carandiru e fazendo a alegria de um monte de detentos? O crime perdeu um granda cara!

Anônimo disse...

é por essas e outras histórias que estou me tornando seu fã...
Qualquer dia vou pegar o 466 só para trocar uma ideia contigo.
Um abraço.

Anônimo disse...

Já escrevi aqui e torno a repetir: Lukas... você é um cara especial. Adoro o que você escreve e também sou teu fã no Diário. Continua nessa, com essas tuas lembranças (ou lambanças?). É Disso que as pessoas precisam e gostam. Fica com Deus e não pare.

Anônimo disse...

Essas historias a gente nunca esquece, eu tbém tenho umas de quando era criança, eu morava no rua ao lado do musamar da colombo, as vezes eu ia no mercado com um par de botas de cowboy, que era do meu irmão mais velho, aquela com cano até a canela, e colocava a calca boca de sino por cima, ai eu chegava na seção de chocolate, pegava uns "sufflar" nem lembro se é assim que se escreve e colocava dentro da bota, era tudo muito rapido, depois ia comer lá no willy davis.

Anônimo disse...

Posso estar enganado, mas acho que o Marquinhos não morreu.
Era o filho da dona Nita?

Parece que um deles, não sei se é o Marquinhos, ou o Carlinhos, que está com uma loja de peças usadas de moto na avenida Morangueira, quase no sinaleiro da vitória.

O Moura era um português chato prá cacete. Ele merecia. Ainda está vivo.
Já o seu Anibal (Rodrigues) bateu as botas no fim do ano passado.

Anônimo disse...

Cara... eram os filhos da dona Nita, sim. Preciso ir lá qualquer hora dessas, bater um papo. Tinha também o Mario Sergio, o mais velho.

Esileda disse...

Se todos os "bandidos" fossem iguais a vc....acho que o mundo seria um tiquinho melhor....
Acho que todos temos "aventuras" assim...na minha adolescência o ponto alto eram as lojas americanas...me atrevi uma vez a adquirir um caderninho tipo rascunho, rs, mal saí da loja e o vigia ja me disse: entrega ou paga...entreguei...corri e chorei...foi uma lição e tanto...nunca mais...

Anônimo disse...

Eita, "Orquídea"... rachei de dar risada com seu comentário. Levantou o astral pra essa segunda-feira cavernosa e abafada.