23.1.07

Meus furtos- 1

Era véspera do Dia das Mães. Corria o ano de 1973 e a gente não possuia um grão de arroz pra comer e não havia perspectiva pra conseguir algo que nos enchesse a barriga, aos pais e a nós; três crianças com aquela vontade de bater um rango, seja lá o que fosse. Eu tinha 11 anos e não sabia de nada da vida, coisa com a qual já me habituei.
Era cerca de 10 horas da manhã. Entrei na Loja Yanaka, na Brasil, perto da avenida Paraná. Eu usava um calção feito pela mãe. Pensei nela e em nossa miséria, em toda aquela tristeza, o rosto da mãe, sofrido e desgastado me doeu na alma, carente de alguma coisa que a deixasse feliz. Um pouquinho só, nada do outro mundo pra dona Zica. Fiquei zanzando por ali durante uns 15 minutos, olhando os brinquedos e matutando. De repente...
Não deu outra: Passei a mão num buquê de rosas de plástico e saí correndo, atravessando a Brasil, pulando os trens da antiga ferroviária, cortando os carros da avenida Colombo- que na época era um pista comum- e cheguei na Vila Esperança, na nossa casa, morrendo de medo e tremendo.
Escondi a meia dúzia das rosas bregas no jardim, e, no domingo, dei de presente pra mãe. Não me lembro qual foi a desculpa que arrumei pra justificar a aquisição das rosas de plástico. Na casa tinha uma manilha de barro decorada, e a mãe colocou tudo dentro. Me recordo que a gente se abraçou e choramos, sem falar palavra. Com certeza ela sabia que eu havia furtado aquilo, mas nunca perguntou.
Se fosse necessário faria tudo de novo.

5 comentários:

Anônimo disse...

Meu véio...

Por nossas Mães, creio Eu que faríamos qualquer coisa...e faria mais 10 vezes se fosse preciso, como diria o Jeremias Muito Louco.

Anônimo disse...

Ora,ora..enton voce era o ladron que entro no meu loja naquere dia...eu sempre quis saber quem era o ladron...arra...voce me deve 12 real...e não cobro juro... se te pego naquere dia...hannnnn...

Anônimo disse...

Lukas, suas recordações estão repletas de lirismo, saudades e muito amor. Parabéns. Leni Xavier

Anônimo disse...

E rosas de plástico duram mais, né não? Já foram pro lixo ou ficaram como lembrança de uma ação que ninguém pode recriminar...?

Anônimo disse...

Nossa. Que texto lindo. Espero te conhecer um dia.