Fim de uma tradição

Estava saindo de bike hoje, por volta das 5 da tarde, quando passou o caminhão do lixo em frente de casa. Fechei o portão, comecei a pedalar e aí deu um clic e pensei: esse ano eles não deixaram aquele cartãozinho na caixa de correio (mensagem muito bonita) e que já é uma tradição e um código: "Ô pessoal ... arruma alguma coisa aí pra melhorar nossas festas de final de ano", muito lindo, e quem não colabora, pra mim, não é gente.
Lembrando disso, e vendo que eles pararam pra fazer um coleta, pedalei pra ultrapassar o caminhão (tio Lukas é doido).
Consegui emparelhar, cumprimentei o motorista, chamei um coletor que estava agarrado na rabeira do caminhão. Ele desceu e perguntei, rapidamente- vendo que eles estavam com pressa.
"E aí? Esse ano não vai ter aqueles cartãozinhos não?"
"Esse ano o prefeito não deu", disse o rapaz.
"Mesmo assim, passa ali naquela casa azul da rua de baixo, que a gente vai dar alguma coisa pra vocês", disse.
"A gente não tá parando nas casas. Tá muito corrido e tamos amontoando o lixo na esquina".
"E agora, como eu faço?", perguntei.
"Quando o senhor ouvir o barulho do caminhão corre no portão", disse encabulado e meio que rindo.
"Beleza. Minhas cachorras avisam quando vocês estáo cinco ruas abaixo".
Aí o rapaz magro, saiu correndo, grudou no caminhão- onde estavam mais três coletores- e zarparam lá pro lixão descarregar nossos dejetos.

Tio lukas tem 44 anos, e juro, mas juro mesmo, que é a primeira vez que não recebo aquele cartãozinho dos coletores. Lá na Vila Esperança, nos anos 70, às vezes a gente mal tinha o que comer, mas a mãe juntava uma grana e comprava um maço de macarrão número 4 (daqueles furados) e uma latinha de massa de tomate e a gente entregava pros lixeiros (na época eram lixeiros). Era a maior alegria pros caras, me lembro, e a gente, e todos os moradores do bairro, nos sentíamos bem em colaborar com o natal deles e de suas famílias. Era uma tradição, um acontecimento especial e único.
O que Maringá tá virando?
Eu, pessoalmente, tô com nojo.
É não é do cheiro do lixo.