Eu estava agorinha, antes do meio-dia, bebericando uma lata no bar do Guerra- me preparando pra ir pro barraco, de bike, louco pra tomar uma ducha- quando chega o seu Antonio e pede dois cigarros "soltos". Nem sentou pra conversar. Perguntei porquê apenas dois, a título de puxar conversa, já que ele sempre compra maço fechado.
"Ah, senhor Lukas... Fui no médico e estou com os pulmões todos pretos. O que eu posso fazer agora? Queria parar mas não tem jeito".
Seu Antonio foi vendedor de tecidos à partir dos anos 60 e ganhou dinheiro praca, segundo ele. Mora na avenida Tiradentes num puta casarão e acaba de construir um sobradão para a filha mais nova, na avenida Nildo Ribeiro, em frente ao bar do Tuti. Acho um barato conversar com ele. Senta à mesa comigo, pede uma "cocaina com gelo" (termos dele) e fica olhando pra obra que está edificando pra filha. Pedia palpites o tempo todo (a moça já está morando no local). "Senhor Lukas... o que que faço com aquela sacada? ; o que o senhor acha de eu levantar mais uma carreira de lajotas no muro? qual cor será que eu pinto o sobrado?".
Erudito, com uma memória prodigiosa- e boca-suja que só ele- alterna um "filho da puta" pro jardineiro que não foi cortar a grama da casa, com trechos completos do poeta português Antero de Quental, a vida de São Lucas e quetais. Coisa maravilhosa.
Muita gente não gosta dele porque é muito turrão. Mas a funçao de tio Lukas é ouvir tudo o que for possível.
Voltando ao papo do cigarro, que era esse o foco no início: achei o homem muito abatido nessa manhã, com o rosto roxo, reclamando de dores no peito, fazendo caras de dor...
Sei lá...
5 comentários:
E dai luKas, podo a sua arvore tambem!!!
Abraços
Teu blog ta muito legal!!
Carlos veterinario
Quando você morava lá no Flamboyant, e passava pra tomar umas no Bar do Tio Chico você fumava pra carái. Largou?
Oi, Daniel. A gente se conhece? Eu fumava dois maços de Marlboro por dia. Parei faz 2 a anos e 7 meses. Tô fora. Engordei 15 quilos.
É, na época eu também fazia um pit stop lá. Andávamos eu , o Robertão e o Marquinhos. Mas trocava idéia com você, o Mané, o Celião, o Soares, o Melancia e uma pá de gente. Há três anos eu saí de Maringá, mas quase todo fim de semana eu tô aí.
Que foda hein? Eu também sou do tempo dos cartõezinhos. Uma vez, um lixeiro(não era um termo pejorativo ) disse que com a divisão do ganho, ele vivia bem uns três meses. E timha data certa para a coleta. Tudo subliminar. Eles não pediam, mas os moradores da rua ao receber o cartãozinho já sabiam e separavam a prenda. Na minha rua eram sempre as crianças que entregavam . Perdi as contas de quantas vezes eu fiz isso. Esses dias eu li que tem um coletor fazendo dupla jornada pra garantir o sustento da família, trampa de dia na coleta de lixo e depois ainda sai coletando lixo reciclável, sinal de que a coisa não anda bem. Esse donativo no final do ano, com certeza seria bem vindo. Agora eu me pergunto: Será que tem a ver com aquela campanha "Neste fim de ano não dê panetone ao seu porteiro, zeladora,doméstica"? Afinal foram eles que elegeram o Lula.
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