"Na rua estava escuro, era noite fechada, e a lua, entre as nuvens, iluminava a terra de uma maneira sinistra. Em vez de atalhar pelos jardins, a mulher [ esposa de Maheu, que saiu de casa para implorar comida para a família de 10 pessoas] fez a volta, desesperada, não ousando entrar em casa. Mas, ao longo das fachadas mortas, todas as portas ressudavam fome e inércia. De que adiantava bater? A miséria estava por toda parte. Havia semanas que não se comia mais, o próprio cheiro de cebola tinha desaparecido, esse cheiro forte que de longe, do campo, anunciava a aldeia; agora só havia um odor de porões bolorentos, de buracos úmidos onde ninguém vive. Os ruídos vagos iam esmorecendo aos poucos: eram lágrima abafadas, pragas soltas ao léu. E o silêncio era cada vez mais pesado, sentia-se avançar o sono da fome, o esquecimento dos corpos jogados nas camas sob os pesadelos dos estômagos vazios (...) "
Trecho de Germinal (pág.273) do francês Émile Zola (1840-1902), o qual estou lendo pela quinta vez.
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