Juro que este é o último post que trata sobre a fome do tio Lukas na infância e na fase adulta. Vamos aos fatos: por volta de 1975 o pai ficou desempregado (ele era mecânico) e quem trabalhava era apenas a minha irmã, na época com 16 anos.
No almoço ela comia pão com paçoquinha, que comprava do pipoqueiro em frente à Anderson Clayton, onde hoje fica a rodoviária nova. Quando tinha um ranguinho em casa eu levava a marmitinha pra ela, a pé, andando pelo canteiro central da avenida Colombo. Era longe pra caramba, mas só eu sei como era gostoso saber que a Dóris ia comer um arroz e feijão com mamão verde refogado e, às vezes, um ovo ou um pedaço de carne.
Certo dia a mãe fez arroz sem sal na hora do almoço. À tarde, a mana chegou com dinheiro de um vale e eu fui comprar sal, entre outras coisas. Aí a mãe, no entusiasmo, salgou o treco ao extremo. A gente acordou umas 3 vezes na madrugada pra tomar água.
Me lembro também que a mãe pegava retalhos de malha da Galeria dos Esportes, que ficava ao lado da nossa casa. Ela fazia tapetes e eu ia vender. Morria de vergonha das meninas da Vila Esperança, onde a gente morava. Também vendia almeirão da nossa hortinha. Fosse hoje não dava lucro de, digamos, 5 reais. E eu paquerando a Wilma, uma garota que morava na mesma rua. E dá-lhe eu morrendo de vergonha.
E dá-lhe a mãe indo tomar café na casa dos vizinhos, senão dava dor de cabeça.
E dá a gente comendo mingau com água e maizena durante dias, sem sal; apenas com salsinha.
E vamos comprar pão fiado do padeiro que passava em frente com aquela buzina (Deus o tenha).
E vai eu comprar um quilo de arroz na máquina da Morangueira, louco pra comer um doce na mercearia.
Acho que tá bom por aqui.
Tô chorando.
5 comentários:
pois então.. estamos próximos do natal e há muita fome no ar..
de fato uma cesta básica nao vai resolver,mas "saco vazio nao para em pé"!, tá na hora de ouvir o povo,antes que comam as mangueirinhas que apertam as ávores da cidade...
Cara , naqueles tempos faltava muita coisa que hoje sobra.
Me lembro de comprar um iogurte por mês, e dividir com meu irmão, meio-a-meio.
Só que sobrava alegria, sobrava amizade com os vizinhos. Sobrava brincadeira na rua. Sobrava pureza de criança. Essas coisa hoje tão difíceis.
Hora do drama: passei quatro anos (dos 11 aos 15 de idade) sem geladeira e com um fogão que só funcionava uma boca. A bóia era arroz feijão e carne moída ou ovo de mistura. Minha mãe trabalhava de vendedora em uma loja de shopping, ganhava o equivalente hoje a uns R$ 350. Moleque, eu não trabalhava. Uma parede da casa, alugada, era de maderite, coisa escrota. A véia conseguiu comprar o fogão e a geladeira com um acerto, os únicos bens materiais que ela tem até hoje, além da velha TV de 20 polegadas. Não é à toa que ela saiu do país, pra ver se levanta uns trocos, que isso daqui é uma m****.
Também, me emocionei.
Nunca na minha vida passei fome. Mas em 1986 quando participava de um grupo de jovens, resolvemos fazer uma rifa para dar algumas cestas de natal para algumas pessoas necessitadas. Deu tudo certo arrecadamos a grana e compramos a cestas. O pessoal do grupo ja tinha definido para quais pessoas iríamos distribuir as cestas( cerca de 20 cestas). Quando fomos entregar as cestas na Vila Vardelina, foi a maior dificuldade, começou a aparecer gente pobre de tudo quanto é lado. E nós não sabiamos o que fazer tinha apenas as vinte cestas e casas já pré determinadas para entregar. Foi de cortar o coração. E Eu que na época era muleque. Fui achando que estava fazendo grande coisa. Mas lá vi que diante da probeza do Bairro, o que fazíamos não era praticamente nada.
É de encher os zóinhos...não tive essa experiência na vida, mas acho que foi pq o ofício de papi era ser dono de boteco mesmo, assim nunca faltou um coxinha com sódinha (será que ainda existe?) E olha que até hoje eu adoro coxinha de mandioca! auauauauauuaua Eita época boa! Saudades da Av. Brasil ali na Operária!
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