Por Miguel do Rosário, do blog Óleo do Diabo :
Essa comparação é velha, mas o que eles fazem também é velho. Eles continuam repetindo a informação ad nauseam até que ela se incruste em nosso inconsciente, até que nós mesmos esqueçamos o contexto que a gerou, e de como se trata de uma mentira filha da puta.
Pensei nisso algumas semanas atrás, lendo artigos sobre Cesare Battisti. Você pode ser uma pessoa má convencional, que sente prazer em mandar para os jornais cartinhas babantes de ódio e [...]undefinedsadismo contra um homem cuja história você não conhece. Até aí tudo bem. O que me espantou é que, mais uma vez, comparou-se o caso Battisti aos cubanos mandados de volta à gulag caribenha. Falo gulag apenas para imitar o trejeito da maioria dos missivistas de jornalões, que imagino vestirem gravatinha borboleta e incensarem a nossa imprensa como grande paladina da liberdade democrática. O fato da mesma imprensa ter apoiado e articulado o golpe de 1964 é só um detalhe insignificante.
Bem, a diferencinha básica, de que os cubanos pediram para voltar à Cuba, não é citada, de maneira que, a cada vez que a comparação Battisti X cubanos é realizada, a imprensa procura grudar, usando cola vagabunda, um raciocínio falho no intelecto já meio demente de seus leitores.
O fato traz consequências graves à psique moderna, e provamos isso quando, por algum desgraçado acaso da vida, somos obrigados a trocar idéias com essas pessoas. Quando essas pessoas sentam à nossa mesa - ou, o que é pior, nos sentamos à mesa delas, e elas passam a repetir, solertes e orgulhosas de si mesmas, exatamente a mesma idiotice que leram no jornal; e quiçá tenham lido já não num editorial, e sim numa carta de leitor!
Sim, porque é preciso entender o significado atual dessa aberração: Carta do Leitor. Aos poucos, aquilo se tornou uma das zarabatanas mais maliciosas do jornal. Por que ali não se tem mais obrigação de falar a verdade. Com a desculpa de divulgar a opinião do leitor, enfiam-se as cartinhas mais estapafúrdias. É o caso também de outro CB. César Benjamin. O ombudsman entregou o jogo. Disse que recebeu mais de duzentas cartas espinafrando a Folha, e somente nove elogiando. Mas o editor da seção de cartas punha, todo dia, uma carta a favor, outra contra. E assim temos um delicioso equilíbrio! O equilíbrio entre a verdade e a mentira!
*
A vitória de Evo Morales serve de lição e alerta para toda uma classe política, a todo um segmento social. Alegrinhos e idiotas, muitos "homens de bem" bolivianos continuaram comendo na mãozinha da mídia, acreditando em pesquisas, em editoriais, em cartinhas de leitores, e agora assistem, atônitos, o índio rindo desbragadamente com sua acachapante e merecida vitória. Mas também não adianta dar uma de César Maia e comprar o último livrinho sobre marketing político publicado nos Estados Unidos. É preciso olhar em volta, respirar fundo e, pela primeira vez na vida, ter coragem de botar seus derradeiros neurônios para funcionar com independência. O povo pobre é ignorante, mas tem um estômago do mesmo tamanho e peso que o do fulaninho formado na Uniban. E qualquer alquimista contemporâneo sabe que uma decisão tomada com base no vazio estomacal pode ser tão ou mais inteligente do que outra feita sob efeito do excesso de lagosta e champagne.
Acontece que Evo Morales, por incrível que isso pareça para quem se informa pela rede filiada à Sociedade Interamericana de Imprensa, a famosa SIP, dirigida atualmente por algum êmulo moderno do Al Capone, por incrível que pareça, Morales está fazendo um bom governo. A Bolívia superou a crise econômica de maneira tão ou mais competente que o Brasil, e Morales tem realizado uma gestão corajosa e criativa, que tem priorizado os mais pobres. Com a vitória, Morales quer ampliar a assistência social às crianças, velhos e mulheres grávidas, medidas que são, a meu ver, infinitamente mais importantes do que emprestar dinheiro a juros subsidiados aos proprietários de jornais - que é, afinal de contas, o motivo pelo qual a mídia latino-americana tem feito uma oposição tão desesperada em todo continente.
A imprensa latino-americana é nossa cicatriz pós-ditadura. Os generais se aposentaram, mas os filhinhos do papais que eram donos de jornal resolveram, infelizmente, continuar gerindo as empresas da família.
*
Há alguns anos, topei com uma notícia que me surpreendeu muito. Uma dessas pesquisas ultrasérias feito por cientistas sociais britânicos descobriu que os homens dão muito mais valor a boatos do que a notícias verdadeiras. Ninguém inferiu o óbvio dessa pesquisa: ela comprova o estrago irreversível causado por notícias deturpadas, de maneira que é necessário sim haver controle social e democrático sobre elas.
Por outro lado, eu já conheço a malícia do Leviatã. Ele tentará se esquivar do controle através de seus mentirosos mais treinados, que irão, como já fazem agora, escamotear o jornalismo pelo uso de técnicas narrativas chupadas de outras modalidades de literatura. Ou seja, fingindo fazer literatura, praticarão o mesmo jornalismo histericamente golpista e reacionário que hoje predomina na imprensa nacional. Não tem importância. Será divertido e instrutivo. E terá combate. Para cada marionete goebbeliana, surgirão dez blogueiros com a pertinácia de um judeu e a paixão de um palestino. [^]
Essa comparação é velha, mas o que eles fazem também é velho. Eles continuam repetindo a informação ad nauseam até que ela se incruste em nosso inconsciente, até que nós mesmos esqueçamos o contexto que a gerou, e de como se trata de uma mentira filha da puta.
Pensei nisso algumas semanas atrás, lendo artigos sobre Cesare Battisti. Você pode ser uma pessoa má convencional, que sente prazer em mandar para os jornais cartinhas babantes de ódio e [...]undefinedsadismo contra um homem cuja história você não conhece. Até aí tudo bem. O que me espantou é que, mais uma vez, comparou-se o caso Battisti aos cubanos mandados de volta à gulag caribenha. Falo gulag apenas para imitar o trejeito da maioria dos missivistas de jornalões, que imagino vestirem gravatinha borboleta e incensarem a nossa imprensa como grande paladina da liberdade democrática. O fato da mesma imprensa ter apoiado e articulado o golpe de 1964 é só um detalhe insignificante.
Bem, a diferencinha básica, de que os cubanos pediram para voltar à Cuba, não é citada, de maneira que, a cada vez que a comparação Battisti X cubanos é realizada, a imprensa procura grudar, usando cola vagabunda, um raciocínio falho no intelecto já meio demente de seus leitores.
O fato traz consequências graves à psique moderna, e provamos isso quando, por algum desgraçado acaso da vida, somos obrigados a trocar idéias com essas pessoas. Quando essas pessoas sentam à nossa mesa - ou, o que é pior, nos sentamos à mesa delas, e elas passam a repetir, solertes e orgulhosas de si mesmas, exatamente a mesma idiotice que leram no jornal; e quiçá tenham lido já não num editorial, e sim numa carta de leitor!
Sim, porque é preciso entender o significado atual dessa aberração: Carta do Leitor. Aos poucos, aquilo se tornou uma das zarabatanas mais maliciosas do jornal. Por que ali não se tem mais obrigação de falar a verdade. Com a desculpa de divulgar a opinião do leitor, enfiam-se as cartinhas mais estapafúrdias. É o caso também de outro CB. César Benjamin. O ombudsman entregou o jogo. Disse que recebeu mais de duzentas cartas espinafrando a Folha, e somente nove elogiando. Mas o editor da seção de cartas punha, todo dia, uma carta a favor, outra contra. E assim temos um delicioso equilíbrio! O equilíbrio entre a verdade e a mentira!
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A vitória de Evo Morales serve de lição e alerta para toda uma classe política, a todo um segmento social. Alegrinhos e idiotas, muitos "homens de bem" bolivianos continuaram comendo na mãozinha da mídia, acreditando em pesquisas, em editoriais, em cartinhas de leitores, e agora assistem, atônitos, o índio rindo desbragadamente com sua acachapante e merecida vitória. Mas também não adianta dar uma de César Maia e comprar o último livrinho sobre marketing político publicado nos Estados Unidos. É preciso olhar em volta, respirar fundo e, pela primeira vez na vida, ter coragem de botar seus derradeiros neurônios para funcionar com independência. O povo pobre é ignorante, mas tem um estômago do mesmo tamanho e peso que o do fulaninho formado na Uniban. E qualquer alquimista contemporâneo sabe que uma decisão tomada com base no vazio estomacal pode ser tão ou mais inteligente do que outra feita sob efeito do excesso de lagosta e champagne.
Acontece que Evo Morales, por incrível que isso pareça para quem se informa pela rede filiada à Sociedade Interamericana de Imprensa, a famosa SIP, dirigida atualmente por algum êmulo moderno do Al Capone, por incrível que pareça, Morales está fazendo um bom governo. A Bolívia superou a crise econômica de maneira tão ou mais competente que o Brasil, e Morales tem realizado uma gestão corajosa e criativa, que tem priorizado os mais pobres. Com a vitória, Morales quer ampliar a assistência social às crianças, velhos e mulheres grávidas, medidas que são, a meu ver, infinitamente mais importantes do que emprestar dinheiro a juros subsidiados aos proprietários de jornais - que é, afinal de contas, o motivo pelo qual a mídia latino-americana tem feito uma oposição tão desesperada em todo continente.
A imprensa latino-americana é nossa cicatriz pós-ditadura. Os generais se aposentaram, mas os filhinhos do papais que eram donos de jornal resolveram, infelizmente, continuar gerindo as empresas da família.
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Há alguns anos, topei com uma notícia que me surpreendeu muito. Uma dessas pesquisas ultrasérias feito por cientistas sociais britânicos descobriu que os homens dão muito mais valor a boatos do que a notícias verdadeiras. Ninguém inferiu o óbvio dessa pesquisa: ela comprova o estrago irreversível causado por notícias deturpadas, de maneira que é necessário sim haver controle social e democrático sobre elas.
Por outro lado, eu já conheço a malícia do Leviatã. Ele tentará se esquivar do controle através de seus mentirosos mais treinados, que irão, como já fazem agora, escamotear o jornalismo pelo uso de técnicas narrativas chupadas de outras modalidades de literatura. Ou seja, fingindo fazer literatura, praticarão o mesmo jornalismo histericamente golpista e reacionário que hoje predomina na imprensa nacional. Não tem importância. Será divertido e instrutivo. E terá combate. Para cada marionete goebbeliana, surgirão dez blogueiros com a pertinácia de um judeu e a paixão de um palestino. [^]
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