Um Caderno e Tanto é uma das coisas mais geniais que já li. A mais absoluta objetividade, uma frieza cortante, quase nehum adjetivo, nada que possa parecer sentimental. Essa é a regra que os dois meninos gêmeos, narradores-personagens do romance, utilizam para registrar em um caderno a coleção de atrocidades pelas quais passaram.
Dois corpos, uma só pessoa indiferenciada, é a besta-humana solta no mundo.
Havia uma guerra e eles foram levados para refugiar-se no campo, na casa da Avó, conhecida no povoado como A Bruxa.
A violência estabelecida a sua volta, eles precisam aprender a defender-se, é a lei da sobrevivência- com o temo não há Mal, nem Bem, que lhes seja impossível realizar.
A Húngara Agota Kristof criou dois pequenos monstros, irrecuperavelmente malígnos. Este seu primeiro romance (1986) foi considerado pela crítica e pelo público, uma verdadeira obra-prima.
Na verdade, a saga dos gêmeos Lucas e Claus-
Um caderno e Tanto, A Prova e A Terceira Mentira- formam uma trilogia.
Desde que se separaram, aos quatro anos, no dia em que o exército inimigo baleou o pai, os gêmeos passaram a vida a procura do outro. Desencantados com a vida, eles transformam a farsa, a mentira, o ceticismo, a amargura e a angústia em armas com as quais possam lutar contra o vazio que os persegue.
Agota também escreveu o belíssimo Ontem.
"Hoje recomeça a corrida imbecilizante. Levantar às cinco horas, tomar o ônibus, bater o ponto, fazer sempre o mesmo buraco na mesma peça. E ganhar exatamente o dinheiro necessário para comer, morar em algum lugar, poder recomeçar a corrida amanhã"- do personagem Sandor Lester.
Um comentário:
Lukas... Vc escreveu este texto?
Muito bacana, bem escrito.
Onde anda vc com este talento para escritor, cronista, jornalista?
Além é claro de genial como cartunista.
Não nos poupe.
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