9.7.07

Cuidado, noqueiro

Há pouco conversei com um rapaz que trabalha em um açougue na avenida Cerro Azul, e que possui a matriz em outro bairro chique da cidade:
- Como é o esquema de corte de carne, quando o cara leva lá pra vocês cortarem? Tipo um frango caipira, por exemplo?
- Nem te conto. Eu tô com uns dois quilos de frango caipira no frizer. Leitoa eu devo ter uns 10 quilos desviados do final do ano. É assim: o cara compra uma leitoa e não sabe cortar ou não tem material pra isso. Ele leva no açougue e pede pra gente fazer o serviço. No que ele vira as costas eu jogo um pedação no canto e ele nem fica sabendo. Quando levam a leitoa com cabeça geralmente eles não querem [aí já é uma prática lícita] e eu vendo cada uma por 10 reais. No Ano Novo agora [2007] eu vendi umas 15.
- E outros tipos de carne? Dá pra fazer um migué?- pergunto.
- Carneiro e cabrito dá pra desviar também. O freguês pede pra cortar a carne e pelo menos uns 10% eu vou empurrando prum canto. Na pressa o cara nem nota a diferença. Aí é só embalar e levar pra casa.
- E frango caipira?-pergunto.
-Mesma coisa. Frango caipira é mais difícil porque aparece pouco lá no açougue. Mas eu sei de casos que açougueiros trocam pedaços do frango caipira pelo de granja. O cliente não repara e os pedaços são desviados. Na panela ninguém percebe muito a diferença.
- Mas, quando vocês saem do açougue pra ir pra casa, o dono não pergunta a respeito do que vocês estão levando? Não poderia ser um produto furtado do próprio açougue? Ele não pensa nisso?
- Nada. Eles não revistam porque também sabem do esquema e deixam quieto.

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