26.12.06

O importante é ter carro

Tio Lukas anda de bike no bairro onde mora, e todos os dias descamba lá pro Borba Gato. A impressão que tenho é que os donos de carro acham que pessoas que usam bicicleta são Zé Manés. Não que eu não seja, mas não precisa humilhar, né? Já ouvi cada coisa: "Pô! O Diário tá te pagando mal assim?", "Porque você não compra uma motinha?" e outros papos que me deixam abismado e com vontade de mandar o peão ir praquele lugar. É um culto à maquina que dá licença.
Dia desses conversava com o Johnny, casado com uma japonesa, filha do dono de um mercado no Borba. Ele a moça, então recém-casados, foram para o Japão onde trabalharam por cinco anos.
Me contou que os dois pedalavam por mais de uma hora para ir ao trabalho, ida e volta. No Japão, segundo ele, a bicicleta é um meio de locomoção muito utilizado.

"O dono da empresa em que a gente trabalhava tem duas indústrias no Japão e uma na China. Todos os dias ele saia de casa, tomava o trem e na estação pegava sua bicicleta e pedalava cinco quilômetros até a fábrica [no Japão você pode deixar a bike em qualquer lugar, sem cadeado que ninguém mexe].
Quando a gente voltou pra Maringá eu ia todos os dias ao banco, de bicicleta [do Borba no centro são seis quilômetros]. Aí ficamos sabendo que as pessoas do bairro falavam: 'Porra, os dois ficaram cinco anos no Japão e não juntaram dinheiro pra comprar um carro?' .
Olha como é a mentalidade do brasileiro", concluiu Johnny.

Um comentário:

Elton Hubner disse...

Quando estudava na Alemanha, eu percebia que um professor de Química sempre ia de bicicleta à aula e, acostumado com a situação dos nossos professores brasileiros, eu achava que o professor de lá era um coitadinho que não tinha carro. Um dia, vi o sujeito com um carrão e, depois, descobri que ele tinha outro melhor ainda na garagem. Mas sabia usar...